Período histórico.

MIGUEL PEREIRA – PRIMÓRDIOS

Localizado no flanco mais interno da Serra do Tinguá, Miguel Pereira ainda é um município bastante jovem (tem pouco mais 50 anos de emancipação político-administrativa), porém desfruta de um prestígio invulgar no Estado do Rio. De fato, a antiga Estiva não usufruiu das benesses sócio-econômicas proporcionadas pela Época cafeeira que enriqueceu os vales dos rios Paraíba do Sul e Santana, fazendo de suas belezas naturais e de seu clima privilegiado o mote de um apreciável crescimento social e urbano no decurso das primeiras décadas do século XX. Em finais do século anterior, entretanto, o advento da estrada de ferro pelas montanhas já carreara enorme carga de progresso tanto para Miguel Pereira quanto para Governador Portela (seu 2º Distrito), possibilitando assim a chegada de imigrantes de múltiplos matizes e comerciantes das mais variadas tendências mercantis, cujas atividades determinaram, em pouco tempo, um significativo fomento arquitetônico e demográfico para a área assentada entre as colinas da Serra do Couto.

Por conseguinte, as atividades turísticas, a ampla divulgação levada a efeito no Rio de Janeiro pelo Professor Miguel Pereira, a excelência do clima, a fertilidade do solo, as riquezas trazidas pela ferrovia nos primórdios do século XX e, principalmente, a instalação de diversas colônias de férias e alentados cassinos pelos vários hotéis da cidade constituíram fatores de extrema relevância para a prosperidade de toda a área serrana, levando Miguel Pereira e Governador Portela a um estágio econômico e a um crescimento urbano de tal ordem que sua emancipação, em 1955, veio se impor de forma quase natural de tão necessária.
Por outro lado, a desativação da ferrovia, em meados dos anos 1970, provocou não apenas consideráveis prejuízos financeiros em toda nossa região como, em especial, imensos problemas sociais no município, mas baseado na fibra que tanto caracteriza o homem da roça e da serra, o povo miguelense voltou-se para atividades comerciais e turísticas mais específicas e diferenciadas, tentando, pela força do trabalho e pelo típico otimismo do brasileiro, manter bem vivo este cantinho luminoso e pacífico onde viver ainda é um processo extremamente agradável...
PERÍODOS HISTÓRICOS
DESBRAVAMENTO DA SERRA DO TINGUÁ: De 1700 até cerca de 1810, cobrindo a abertura de caminhos pioneiros pela Serra e pelo Vale do Paraíba. O período abrange ainda o aparecimento da Fazenda Pau Grande (em 1709), a implantação da Sesmaria do Capitão Marcos da Costa Fonseca Castelo Branco (em 1712), o nascimento da Vila de Paty do Alferes (em 1739) e o início da construção da Fazenda de Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz (em 1770) e sua conclusão em 1780, sob o comando da família Werneck.
CICLO DO CAFÉ: De 1770 a 1890. Apogeu da produção do café nas grandes propriedades de Valença e Rio das Flores, além dos cafezais nas fazendas do Secretário (Vassouras), Piedade, Manga Larga, Monte Líbano, Monte Alegre e Palmeiras (na área de Paty do Alferes e em parte da região do atual município de Miguel Pereira), as cinco últimas pertencentes a Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o 2º Barão de Paty do Alferes. Tal período caracterizou-se também por uma intensa produtividade pecuária e agrícola (tais como a criação de aves, bovinos e suínos e o cultivo de milho, trigo, mamona, feijão) graças ao expressivo trabalho escravo nas grandes fazendas serranas. Fase de crescimento da Vila de Paty do Alferes, nascimento da Freguesia de Sacra Família do Caminho Novo do Tinguá e ainda da Vila de Vassouras, esta logo constituída em Município em 1833. Tal ciclo assistiu também à derrocada da cafeicultura no vale do Paraíba em consequência tanto da Abolição da Escravatura quanto do irremediável, e progressivo, esgotamento do solo.
NASCIMENTO DO POVOADO DE BARREIROS: De 1880 a 1912. Crescimento do povoado de Barreiros – origem de Miguel Pereira – localizado a meio caminho entre as vilas de Vassouras e Paty do Alferes. Construção da primeira capela católica do povoado, levantada em homenagem a Santo Antônio da Estiva pelo comerciante Antônio da Silva Machado, consagrada em 13 de junho de 1897, data esta considerada oficialmente como o dia do nascimento da cidade de Miguel Pereira. Esse período caracterizou-se ainda pela construção da Estrada de Ferro da Linha Auxiliar a partir de Belém (hoje Japeri), implantada entre 1882 e 1898.
PERÍODO FERROVIÁRIO: Depois de 29 de março de 1898, data de inauguração das estações da Linha Auxiliar na área serrana, trecho ferroviário que conectava Japeri diretamente à cidade de Três Rios. Início das viagens regulares de trens de passageiros, e de cargas, por toda a região serrana. Grande desenvolvimento urbano, demográfico e arquitetônico da Estiva (nome que já substituía o topônimo Barreiros) e Governador Portela, localidade esta sediando as oficinas de manutenção da ferrovia.
VILA DA ESTIVA: De 1900 a 1920. Época caracterizada, em especial, pelas obras de ampliação da Igreja de Santo Antônio, financiadas por ricas famílias do lugar (como os Machado Bitencourt e os Botelho Peralta), e também pela ligação ferroviária entre Governador Portela e Vassouras através de um segundo ramal da Linha Auxiliar (inaugurado em 1914). Incremento do comércio geral na região. Nessa época aportou na Estiva, no ano de 1915, o médico e professor Miguel da Silva Pereira, que se hospedou pela primeira vez na Fazenda do Barão de Javary (Jorge João Dodsworth), bem junto ao lago do lugar.
PERÍODO DO DR. MIGUEL PEREIRA: Compreende os anos de 1915 a 1918. Intensa divulgação da Vila da Estiva no Rio de Janeiro pelo Dr. Miguel Pereira. Chegada de inúmeros imigrantes alemães, árabes, portugueses, japoneses e italianos à região serrana. Grande multiplicação de estabelecimentos comerciais, entre os quais armarinhos, empórios variados e açougues. Morte do professor Miguel Pereira em 23 de dezembro de 1918.
CONSTRUÇÃO DA CIDADE: De 1920 a 1950. Caracterizado principalmente pela troca do nome Estiva para Miguel Pereira. Chegada de novas levas de imigrantes, entre eles as importantes famílias Ahouage, Dau, Farah, Levy, Barile, Januzzi, Perriconi, Badolati, Deister, Wängler e outras. Incremento considerável do comércio e da hotelaria, este último ramo fazendo nascer na região os hotéis Mano, Lido, Guaporé, Suíça, Javary, Roma, Summerville e dos Turistas, entre outros, alguns deles abrigando alentados e concorridos cassinos. Aparecimento da luz elétrica na região no ano de 1927, fornecida pela pioneira empresa Companhia Força e Luz Vera Cruz fundada por Ângelo Lagrotta e Edmundo Peralta Bernardes. Surto de peste bubônica na Vila (em 1938) e grande enchente de toda região serrana em 1945.
EMANCIPAÇÃO: De 1951 a 1955. Amplos movimentos políticos em Miguel Pereira e em Governador Portela voltados para a liberação das atividades político-administrativas então centralizadas em Vassouras, até então município-mãe de Miguel Pereira, comandados em especial por alguns notáveis lideres locais, entre eles Frederico Augusto da Senna Wängler (que seria o primeiro Prefeito do Município), Gastão Gomes Leite de Carvalho, Darcy Jacob de Mattos, Oswaldo Duarte dos Santos, Francisco Ramos Bernardes, Francisco Marinho Andreiolo, Dr. Carlos Leite, Joaquim Pereira Soares, Antônio da Silva Valente, Aristolina Queiroz de Almeida e seu pai Arthur Monteiro Queiroz, Manoel Guilherme Barbosa, Álvaro Caria, Antônio Valente, José Antônio da Silva e outros mais.
PERÍODO DE AUTONOMIA: Desde a emancipação (25 de outubro de 1955) até os dias atuais.